Comunicação Eficaz
Comunicar-se adequadamente é uma via de mão dupla. Como dizer ao outro aquilo que precisamos se não estamos realmente conscientes daquilo que queremos? Conhecer-se abrange identificar emoções, sentimentos, desejos, necessidades e tudo mais que pode truncar o que dizemos e o que queremos dizer.
NEUROCIÊNCIA E COMPORTAMENTO


Você, certamente, já se pegou em meio a uma discussão (com mãe, pai, namorado/a, cônjuge ou afins). Sabe aquele momento que queremos dizer para o outro o quanto nos sentimos magoados e, ao invés disso começamos a dizer: “o seu problema é (...); você está sempre (...), você nunca me trata (...)", e coisas do gênero? Culpa, insulto, depreciação, comparação, são alguns dos exemplos do rumo que as conversas podem tomar. Se você já viveu uma situação parecida sabe que é nesse momento que as coisas tendem a desandar. Qual a razão de não sermos adequadamente escutados? Será que são todos surdos ou incompetentes ao nosso redor? Será que todas as outras pessoas tendem a não compreender (ou admitir) o que falamos? O que será que acontece?
Pois bem, vamos pensar juntos/as. Reflita sobre os seus sentimentos e as suas emoções. Pense no oposto. Coloque-se em uma situação hipotética em que seu interlocutor se expressa com julgamentos e acusações. Qual sua imedita reação? É possível ficar absolutamente calmo/a e ouvir tudo o que a outra pessoa tem a dizer? Ou será que paramos na primeira ou segunda frase e começamos a nos defender internamente? Quando alguém aponta nossas falhas (concordando ou não com esse apontamento) tendemos a justificar, ainda que para nós mesmos/as, o quão errada aquela pessoa está a nosso respeito. Isso é humano, simples assim.
Quando estamos em uma discussão (no bom sentido) e tentamos expressar nossas necessidades, mas fazemos isso de forma a reforçar uma postura defensiva em quem nos ouve bloqueamos a comunicação, pois o outro também estará ocupado internamente construindo defesas. E por que precisamos nos defender (embora nem percebamos isso)?
Constituimo-nos como sujeitos (ver artigo “Quem sou eu?”) construindo uma autoimagem que pode, muitas vezes, se tornar alienante. Alienante porque nos dificulta autoreflexões dolorosas. Construímos um ideal de perfeição, de retidão e todas as coisas boas e apreciáveis socialmente. Inconscientemente acreditamos que, uma vez alcançado esse ideal, seremos amados e valorizados. Esse eu ideal é diferente daquele outro que é um horizonte, algo que nos impulsiona a aprendermos mais, tentarmos de novo, elaborar um pouco melhor, de nos mover em busca de melhorias. Esse eu ideal imperativo, que nos comanda e impõe sermos imaculados, não permite uma mancha na absoluta perfeição imaginária. Imaginariamente, somos muito melhores, mais compreensivos/as, empáticos/as, inteligentes, articulados/as, honestos/as (etc, etc, etc) do que ele/ela percebe. Precisamos provar isso para ele/ela naquele momento. Precisamos nos defender desse ataque injusto (observe-se atentamente na próxima vez que rolar uma DR).
Assim como nos sentimos, nosso/a interlocutor/a provavelmente também se sente. E aí? Como sair desse emaranhado de acusações mútuas? Um início de caminho é a consciência. Tomar consciência das nossas reações, emoções, motivações, intenções pode ser o primeiro passo para uma transformação consistente. Observações e reflexões sobre nós mesmos facilitam mudanças comportamentais. Sabe aquele velho jargão que diz: se quiser mudar o mundo, mude você. Pois é, pode ser que o mundo nem mude, mas só o fato de sua postura frente àquilo que acontece sofrer uma torção, só o fato de sua interpretação dos eventos se ampliar, já transforma completamente sua relação com os demais. A seguir, daremos duas dicas (simples, mas não fáceis) que podem transformar uma discussão sem fim em uma conversa produtiva.
Faça uma profunda autoanálise e responda: qual a responsabilidade do outro com a sua felicidade? Ou com a sua raiva? Ou com sua autoestima? Pois é. Será que alguém lhe "fez raiva", ou será que você sentiu raiva, mas ainda não sabe bem o porquê? Será que alguém lhe "faz feliz" ou será que você se sente feliz na presença de alguém? Percebe que isso não é apenas um jogo de palavras, mas é o colocar-se como o agente da ação? Delegamos tanto para as outras pessoas, como se elas fossem responsáveis em nos fazer sentir bem (ou mal)... Há uma princípio estoico que diz que não é o evento em si que nos alegra (aborrece, enraivece, entristece, etc), mas é a nossa interpretação do evento. Ou seja, a responsabilidade sobre o que nos acontece é, primariamente, nossa.
Ao invés de apontar o dedo e dizer todos os problemas que o outro nos causa, que tal falar a partir do seu ponto de vista. Ao invés de dizer: “você nunca faz nada para me ajudar”, falar: “eu me sinto sobrecarregada com tantos afazeres”. Quando não apontamos o dedo para o outro, mas falamos a partir de nós mesmos/as, ou seja, quando dizemos o que sentimos sem cobrar do outro, podemos ser efetivamente ouvidos/as. Ninguém se sente ameaçado/a quando escuta como outra pessoa se sente. Ao utilizar esse tipo de comunicação abrimos um canal mais direto com nosso/a interlocutor/a. Para isso, precisamos identificar exatamente o que sentimos e por que sentimos.
Experimente! Depois, conte-nos como foi.
Até o próximo artigo.




